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Introdução:
Aeroportia é o termo usado para caracterizar a presença de gás no sistema portal. Os primeiros casos de aeroportia hepática (AH), quando há gás na vascularização portal intra-hepática, foram descritos em 1955 e 1960, primeiro em uma criança com enterocolite necrotizante (1) e, em seguida, em um adulto com isquemia intestinal (2).
Etiopatogenia da Aeroportia:
Há duas teorias para a presença de AH:
a) Aumento de pressão intraluminal, ou dentro de um abscesso, com escape de gás para a circulação, chegando ao fígado;
b) Presença de bactérias produtoras de gás no próprio sistema portal;
"A presença de aeroportia em paciente sintomático deve levantar a suspeita de isquemia intestinal."
Diagnóstico:
A história deve focar em procedimentos cirúrgicos ou endoscópicos prévios, e em sintomas que possam ajudar no diagnóstico diferencial. O diagnóstico definitivo é feito utilizando radiografia, tomografia ou ultrassonografia, sendo que a tomografia é considerada o padrão-ouro.
Como diferenciar aeroportia de aerobilia?
Uma dificuldade comum dos alunos e dos residentes e que frequentemente observo nas sessões de discussão de caso é como diferenciar aeroportia de aerobilia. Isso ocorre porque as duas condições tem a mesma imagem nos exames, até porque ambas são “gás”. Para ajudar a diferenciar, precisamos analisar:
a) O quadro clínico do paciente, atentando-se a procedimentos prévios e hipótese diagnóstica atual;
b) A localização do gás no fígado.
Em uma revisão da literatura (3), as três causas mais comuns de AH foram:
Isquemia Intestinal 43%
Procedimento de dilatação do trato gastrointestinal 12%
Abscesso intraperitoneal 11%
A mortalidade global foi de 39%, mas vale ressaltar que os pacientes com isquemia intestinal apresentaram a maior taxa de mortalidade, que chegou a 75%, e quanto maior a extensão da necrose observada no intraoperatório, maior a mortalidade.
Então, operar sempre?
NÃO. Há causas de aeroportia hepática que não necessitam de tratamento cirúrgico de emergência, como úlcera péptica, procedimentos de dilatação do trato gastrointestinal, pancreatite e doença inflamatória intestinal, porém foram menos prevalentes da revisão da literatura.
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Referências:
1. Wolf JN, Evans WA. Gas in the portal veins of the liver in infants: a roentgeno- graphic demonstration with postmortem anatomical correlation. AJR Am J Roentgenol. 1955;74:486-489.
2. Susman N, Senturia HR. Gas embolization of the portal venous system. AJR Am J Roentgenol. 1960;83:847-850.
3. Kinoshita H. Clinical Features and Management of Hepatic Portal Venous Gas. Arch Surg. 2001;136(12):1410.
Sobre o Autor:
o Dr Carlos Augusto Menegozzo tem experiência com as patologias do aparelho digestivo e com emergências cirúrgicas, além de participar ativamente do treinamento de com residentes e de estudantes de Medicina em São Paulo.