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Aspirina na prevenção de tromboembolismo venoso? É isso mesmo?

Atualizado: 26 de nov. de 2023

Aqui você pode "ouvir" este artigo na íntegra!


Afinal, que ideia maluca é essa?


Se você está achando isso estranho, leia esse artigo até o fim... prometo que vai mexer bem com a sua cabeça!


Mas antes, valem algumas definições básicas, como:


O que é TEV e qual sua importância?


Tromboembolismo venoso (TEV) refere-se a qualquer situação trombótica ou embólica associada ao sistema venoso. Portanto, TEV engloba a trombose venosa profunda (TVP) e a embolia pulmonar (EP), duas occorências que podem representar causas importantes de morbidade e mortalidade em qualquer paciente cirúrgico, especialmente as vítimas de trauma.


Apesar de esforços extensos para mitigar o risco de desenvolvimento de TEV, ainda existe grande variabilidade nas práticas clínicas relacionadas à quimioprofilaxia em pacientes com trauma, evidenciando a complexidade e a falta de consenso nessa área.


Estado de hipercoagulabilidade no Trauma:


Inicialmente, é importante lembrar da fase de hipercoagulabilidade que sucede ao controle efetivo da hemorragia e à ressuscitação bem-sucedida. Após o trauma inicial, observa-se um estado de hipercoagulabilidade caracterizado por níveis suprafisiológicos de trombina e fibrinogênio, aumentando o risco de TEV em pacientes gravemente feridos, mesmo quando submetidos a regimes tradicionais de anticoagulação.


A ativação contínua das plaquetas por meio de vias alternativas parece ser um fator crítico na formação de TEV pós-traumático. Essa constatação é respaldada por testes viscoelásticos em pacientes pós-trauma, que evidenciam estados hipercoaguláveis potencialmente resistentes aos regimes padrão de heparina de baixo peso molecular (HBPM).


Ainda, estudos mostram que uma parcela significativa dessas embolias pulmonares pode ter origem na trombose pulmonar primária. Essa perspectiva desafia os fatores de risco tradicionais e a teoria de que os êmbolos pulmonares seriam originados de trombos nas extremidades, sugerindo a necessidade de estratégias alternativas de quimioprofilaxia.


E o que a aspirina tem a ver com isso?


O papel da aspirina em vítimas de trauma é raramente relatado na literatura. Considerando isso, um estudo publicado em 2023 na Trauma and Acute Care Surgery Open traz informações interessantes sobre o tema.


Dentro desse contexto, o estudo explora o potencial papel da aspirina, um agente antiplaquetário, na prevenção da TEV em pacientes traumatizados. Enquanto a aspirina demonstrou eficácia da aspirina na prevenção de tromboembolismo venoso em contextos ortopédicos, seu uso como agente profilático em pacientes politraumatizados permanece pouco estudado.


A pesquisa foi conduzida em um grande centro de trauma de nível I do Texas cujo autor sênior é o Dr John Holcomb, um grande estudioso da coagulação no Trauma. O estudo incluiu mais de 10.000 pacientes adultos admitidos entre janeiro de 2012 e junho de 2015. Uma coorte que recebeu aspirina além da quimioprofilaxia convencional com heparina foi comparada a uma coorte que recebeu apenas a quimioprofilaxia convencional. A análise incluiu fatores demográficos, dados sobre lesões e fatores de risco para TEV.



Os resultados revelaram que a adição de aspirina ao tratamento padrão de anticoagulação foi associada a uma redução significativa no risco de TEV, sem aumento nas complicações hemorrágicas. A redução absoluta do risco foi de 1,8%, com um número necessário para tratar de 55 em 60 dias.


Um dado que chama a atenção nesse estudo: o grupo de pacientes que recebeu aspirina + heparina tinha média de idade maior, mais obesidade, escores de risco maiores (ISS e TESS), e mais tempo de internação e de ventilação mecânica, fatores sabidamente associados a maior risco de TEV. Ao mesmo tempo, uma boa parcela de pacientes desse grupo já fazia uso de antiplaquetários em regime domiciliar.


O estudo reconhece suas limitações, incluindo a natureza retrospectiva da análise e a possibilidade de viés de seleção de pacientes. No entanto, os resultados sugerem que a aspirina pode desempenhar um papel benéfico como adjuvante à quimioprofilaxia tradicional em pacientes traumatizados.


O grupo que usou aspirina em associação com heparina apresentou um risco significativamente menor de TEV quando comparado ao grupo de quimioprofilaxia convencional.

Concluindo, o estudo destaca a necessidade de uma investigação prospectiva mais aprofundada para validar esses achados e determinar estratégias ideais de quimioprofilaxia em uma variedade mais ampla de populações de trauma. Além disso, sugere que a aspirina, por ser de fácil acesso e custo relativamente baixo em comparação com outras opções anticoagulantes, pode representar uma alternativa viável na prevenção da TEV em pacientes traumatizados. Confira nossa publicação no Instagram sobre esse tema!


Referência:

  1. Lammers D, Scerbo M, Davidson A, et al. Addition of aspirin to venous thromboembolism chemoprophylaxis safely decreases venous thromboembolism rates in trauma patients. Trauma Surgery & Acute Care Open 2023;8:e001140. doi: 10.1136/tsaco-2023-001140

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