Introdução
A doença hemorroidária é uma condição prevalente, frequentemente associada a sintomas como dor, prurido, sangramento e prolapsos. Apesar de comum, ainda existem muitos mitos e dogmas em torno do manejo dessa doença, tanto no tratamento clínico quanto no cirúrgico. Este texto reúne as principais discussões sobre o tema, destacando práticas baseadas em evidências e desmistificando abordagens desatualizadas.
Tratamento Clínico de Hemorróidas
O manejo clínico da doença hemorroidária varia conforme os sintomas predominantes do paciente. As orientações gerais incluem:
Pomadas e Supositórios
As pomadas têm ação anti-inflamatória, analgésica e anestésica, ajudando na redução do edema. Supositórios são preferíveis para doença hemorroidária interna, devido à facilidade de aplicação e eficácia localizada.
Banho de Assento
O uso de água morna continua sendo uma recomendação sólida. Esse método relaxa a musculatura do esfíncter interno e melhora a circulação, aliviando sintomas dolorosos e reduzindo o edema. A adição de substâncias como permanganato de potássio ou chá de camomila não apresenta vantagens comprovadas.
Venotônicos
Embora não haja evidência robusta, medicamentos venotônicos podem ser usados para reduzir o tempo de recuperação em casos específicos, como trombose hemorroidária.
Repouso
É indicado repouso de 24 a 48 horas para aliviar a pressão na região pélvica. A orientação inclui evitar longos períodos em pé ou sentado.
Laxativos Não Irritativos
Substâncias como polietilenoglicol (PEG) e lactulose são preferíveis para facilitar evacuações sem irritar o cólon, especialmente em pacientes com constipação.
Trombose Hemorroidária
A trombose hemorroidária é uma complicação aguda que causa dor intensa devido à formação de coágulos no tecido prolapsado. O manejo é conservador na maioria dos casos:
Trombectomia não é recomendada rotineiramente, pois não acelera a recuperação e pode causar novas tromboses.
A cirurgia só é indicada em situações extremas, como necrose de pele ou infecção associada.
Intervenções Cirúrgicas
O tratamento cirúrgico é indicado para pacientes com sintomas graves ou refratários ao manejo clínico. As opções incluem:
Hemorroidectomia Excisional
Técnica de Milligan-Morgan: Considerada o padrão-ouro para hemorroidas grau III e IV, trata tanto o componente interno quanto o externo, com menor taxa de recidiva.
Técnica de Ferguson: Variante que inclui o fechamento da ferida operatória, oferecendo maior hemostasia, mas com tempo de cicatrização semelhante.
Grampeadores (PPH)
Procedimentos com grampeadores são úteis para prolapsos hemorroidários internos, mas apresentam complicações raras e graves, como fístulas e abscessos retroperitoneais.
Desarterialização Hemorroidária com Doppler
Técnica minimamente invasiva que reduz o fluxo sanguíneo para as hemorroidas e corrige o prolapso, com menor dor pós-operatória.
Recomendações Pós-Operatórias
O manejo pós-operatório envolve:
Analgesia Adequada: Combinações de dipirona, anti-inflamatórios e opioides leves são usadas para controle da dor.
Evacuação Supervisionada: A primeira evacuação deve ser assistida no ambiente hospitalar para evitar fecalomas e minimizar traumas.
Banho de Assento: Continua como um complemento essencial para alívio da dor e relaxamento muscular.
Antibióticos: Não são recomendados rotineiramente devido à ausência de benefícios comprovados.
Conclusão
A doença hemorroidária exige uma abordagem personalizada, baseada nos sintomas e na gravidade do caso. Embora técnicas modernas estejam disponíveis, muitas intervenções tradicionais, como a hemorroidectomia de Milligan-Morgan, permanecem altamente eficazes. Pesquisas futuras devem explorar novas tecnologias, como o uso de laser, e avaliar o impacto dessas abordagens na qualidade de vida dos pacientes.
Como sempre publicação de qualidade e bem elucidativa, parabéns pelos conteúdos.
.