Introdução
O hemotórax traumático, resultante de lesões torácicas tanto penetrantes quanto contusas, é uma condição comum e potencialmente fatal. O manejo tradicional envolve a colocação de um tubo de toracostomia (TT) para drenagem do sangue acumulado na cavidade pleural. No entanto, a falha na evacuação completa pode resultar em hemotórax retido, que está associado a complicações significativas, incluindo infecções e necessidade de intervenções cirúrgicas adicionais. Nos últimos anos, a irrigação torácica surgiu como uma técnica adjunta promissora para melhorar os resultados desses pacientes.
Evidências e Inovações sobre o Hemotórax
Estudo 1: Lavagem de Tórax por Hemotórax Traumático
Segundo Beyer et al. (2024), a irrigação torácica pode ser particularmente benéfica em pacientes hemodinamicamente estáveis com hemotórax traumático superior a 300 mL. Neste estudo, a combinação de toracostomia percutânea com irrigação de solução salina morna mostrou-se eficaz na melhoria da evacuação do hemotórax. A técnica envolveu a inserção de um cateter percutâneo guiado por ultrassom, seguido pela irrigação com salina morna, facilitando a evacuação completa do hemotórax. O estudo destacou que esta abordagem não apenas melhora a drenagem inicial, mas também reduz a necessidade de reintervenções.
A principal vantagem desta técnica é a diminuição da dor e desconforto relatados pelos pacientes devido ao uso de tubos de menor calibre, que são igualmente eficazes na drenagem quando combinados com a irrigação. Este estudo também enfatizou a necessidade de realizar a irrigação o mais cedo possível no tratamento do paciente para maximizar a eficácia.
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Estudo 2: Iniciativa de Melhoria de Desempenho no Hemotórax
McLauchlan et al. (2024) relataram os resultados de uma série de melhorias de desempenho em um centro de trauma de nível 1, utilizando toracostomia percutânea com irrigação pleural imediata. A análise demonstrou que essa abordagem é clinicamente viável e eficaz, com a maioria dos pacientes apresentando boa recuperação sem a necessidade de reintervenção significativa. Este estudo reforça a aplicabilidade clínica da irrigação torácica como uma prática padrão em pacientes estáveis.
Os resultados mostraram que, dos nove pacientes tratados, a maioria apresentou resolução adequada do hemotórax sem complicações graves. A técnica utilizada envolveu a colocação de um cateter de pequeno calibre e a administração de salina morna através de uma válvula de três vias, alternando entre infusão e sucção. A equipe relatou que este método foi bem tolerado pelos pacientes e não aumentou significativamente o tempo do procedimento.
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Estudo 3: Análise Prospectiva (Escore de Propensão) no Hemotórax
Kugler et al. (2017) conduziram um estudo prospectivo comparativo que mostrou uma redução significativa na taxa de intervenções secundárias para hemotórax retido quando a irrigação torácica foi realizada no momento da colocação inicial do TT. A irrigação com solução salina morna imediatamente após a colocação do tubo resultou em menor incidência de hemotórax retido, evidenciando a eficácia da técnica na prevenção de complicações.
Este estudo envolveu 296 pacientes, dos quais 60 receberam irrigação torácica. Os resultados mostraram que apenas 5,6% dos pacientes no grupo de irrigação necessitaram de reintervenção, em comparação com 21,8% no grupo de controle. A técnica envolvia a infusão de 1 litro de salina morna no espaço pleural seguido de sucção para remover o líquido e os coágulos de sangue. Os autores concluíram que a irrigação mecânica e a diluição do sangue no espaço pleural foram fundamentais para reduzir a taxa de hemotórax retido.
Confira um pouco mais sobre o tema no vídeo abaixo:
Estudo 4: Avaliação da Efetividade da Irrigação Torácica para o Hemotórax
Um estudo retrospectivo realizado entre 2017 e 2021 em um centro de trauma de nível I comparou a irrigação torácica via TT à colocação de TT sem irrigação . De 370 pacientes incluídos, 225 (61%) foram submetidos à irrigação. A análise bivariada mostrou que a irrigação foi associada a menores taxas de VATS (6% vs 19%, p < 0,001) e de hemotórax retido (10% vs 21%, p < 0,001). Além disso, os pacientes irrigados tiveram uma menor duração de TT (4 vs 6 dias, p < 0,001) e menor tempo de internação hospitalar (7 vs 9 dias, p = 0,04). A análise multivariada confirmou que a irrigação reduziu as chances de VATS (aOR: 0,37, IC95%: 0,30-0,54) e de hemotórax retido (aOR: 0,42, IC95%: 0,25-0,74), além de diminuir a duração do TT (β: -1,58, IC95%: -2,52, -0,75). Este estudo corrobora os achados de pesquisas menores, demonstrando que a irrigação torácica previne o hemotórax retido e reduz a necessidade de intervenção cirúrgica adicional.
Potenciais Benefícios Clínicos da Irrigação Torácica no Hemotórax
Redução do Hemotórax Retido: A irrigação torácica ajuda a desagregar mecanicamente os coágulos de sangue e diluí-los, facilitando a evacuação completa. Estudos indicam que esta técnica pode reduzir significativamente a necessidade de intervenções cirúrgicas adicionais, como VATS ou toracotomias.
Menor Necessidade de Intervenções Cirúrgicas: Diversos estudos demonstraram que a irrigação diminui a necessidade de reintervenções, resultando em menores taxas de complicações e uma recuperação mais rápida para os pacientes. A abordagem com irrigação também mostrou ser eficaz na redução das taxas de infecção e empiema.
Recuperação Mais Rápida: Pacientes submetidos à irrigação tendem a ter menor duração de uso do TT e menor tempo de internação hospitalar. A redução do tempo de uso do TT também minimiza o risco de complicações associadas ao uso prolongado do tubo, como infecções e dor persistente.
Conclusão
A irrigação torácica representa uma inovação significativa no manejo do hemotórax traumático. As evidências sugerem que esta técnica não apenas melhora a eficiência da drenagem inicial, mas também reduz as complicações associadas ao hemotórax retido. Implementar a irrigação como parte do protocolo de manejo pode proporcionar melhores desfechos clínicos e reduzir a carga sobre os recursos de saúde.
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Referências
Beyer, C. A., McLauchlan, N. R., Cannon, J. W. (2024). Thoracic Lavage for Traumatic Hemothorax. JAMA Surgery, 159(5), 584-589.
McLauchlan, N., Ali, A., Beyer, C. A., Brinson, M. M., Joergensen, S. M., Yelon, J., Dumas, R. P., Vella, M. A., Cannon, J. W. (2024). Percutaneous thoracostomy with thoracic lavage for traumatic hemothorax: a performance improvement initiative. Trauma Surgery & Acute Care Open, 9, e001298.
Kugler, N. W., Carver, T. W., Milia, D., Paul, J. S. (2017). Thoracic irrigation prevents retained hemothorax: A prospective propensity scored analysis. Journal of Trauma and Acute Care Surgery, 83(6), 1136-1141.
Al Tannir AH, Biesboer EA, Golestani S, Tentis M, Maring M, Gellings J, et al. (2024) Thoracic Cavity Irrigation Prevents Retained Hemothorax and Decreases Surgical Intervention in Trauma Patients. Journal of Trauma and Acute Care Surgery | DOI: 10.1097/TA.0000000000004324
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